O buraco negro chamado burnout: Quando o trabalho consome a vida

O Burnout é um labirinto, no qual sentimos sensação de estar perdidos em meio a tanto trabalho, sem saída. Foto: Ilustração

A semana mal começa e já nos pegamos contando os dias para sexta-feira. Depois, a contagem regressiva para o fim do turno, a espera quase interminável pelo dia de descanso ao lado da família e amigos. Sonhamos com passeios no parque, idas ao cinema, churrascos de domingo ou um almoço na casa dos pais. Mas e para aqueles que não conseguem desligar do trabalho? O que fazer quando o pavor da segunda-feira vira uma crise de pânico e ansiedade? E, mais grave ainda, o que fazer quando o burnout se instala?

Mencionada pela primeira vez por Freudenberger (1974, 1975) como uma "exaustão advinda do excesso de demandas de energia, força ou recursos", a síndrome de esgotamento profissional tem sido um objeto de estudo cada vez mais relevante na psicologia. Infelizmente, ela já afeta milhões de pessoas globalmente. O Brasil, por exemplo, detém a medalha de prata nesse pódio preocupante, com 30% da população ativa sofrendo de burnout, atrás apenas do Japão, com 70%.

Entendendo a doença

Classificada pela OMS como doença em 2022, a síndrome de burnout é uma desordem emocional que causa exaustão extrema. O corpo não aguenta mais e a mente não consegue mais fingir que está tudo bem. É mais comum em profissões que lidam com estresse constante, mas fatores como pouca autonomia, não identificação com as tarefas e injustiças no ambiente de trabalho também são gatilhos para seu surgimento.

A professora e pesquisadora Cláudia Osório, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que o aumento dos transtornos mentais relacionados ao trabalho reflete as pressões do capitalismo contemporâneo. Para ela, esse modelo neoliberal está impulsionando não só o burnout, mas também casos de depressão, infartos e até suicídios ligados ao trabalho.

A busca incansável por excelência e resultados cada vez melhores por parte das lideranças leva à desumanização dos funcionários, que passam a ser vistos como robôs incansáveis. Essa corrida por metas cada vez maiores, segundo a professora Cláudia, coloca as pessoas em um "estado permanente de dívida emocional e física, gerando esgotamento e desmotivação".

Um estudo de Zanatta e Lucca (2015) aponta que a enfermidade pode se manifestar de formas psicossomáticas, psicológicas e comportamentais, gerando consequências negativas não apenas na vida pessoal e profissional, mas afetando o indivíduo em sua totalidade. Em 2019, a pesquisadora Cassia Oliveira afirmou que sintomas como nervosismo, sentimentos de desamparo, vazio, solidão e tristeza podem se tornar crônicos, tornando-se gatilhos para o desenvolvimento de outras patologias relacionadas ao humor deprimido e ansiedade.

Dinheiro e opressão mental

Um relatório da OMS, "Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental", escrito por Olivier De Schutter, revela que a busca desenfreada pela riqueza faz com que doenças como ansiedade e depressão floresçam. Ele argumenta que a priorização do aumento do PIB gera escolhas políticas que tornam as sociedades mais desiguais, uma lógica classificada como prejudicial aos trabalhadores.

Para Schutter, o maior fator de risco é uma economia que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. O relatório também aponta que a crise climática contribui para a deterioração mental, com estudos mostrando como inundações, secas e o aumento da temperatura afetam os meios de subsistência de agricultores e povos indígenas. Estima-se que um em cada três adultos sofrerá de problemas de saúde mental ao longo da vida, sendo que pessoas em situação de pobreza são três vezes mais propensas.

Há sempre uma luz no fim do túnel

A história de Tatiana, uma fisioterapeuta ouvida pelo Correio Braziliense, ilustra a dura realidade do burnout e a possibilidade de superação. Em 2019, com uma carga de trabalho de 70 horas semanais, uma chefe autoritária e uma rotina que perdia o sentido, Tatiana perdeu a alegria e o propósito de viver seus dias. Começou a ter lapsos de memória e dificuldades cognitivas.

Internada com suspeita de doença neurológica, Tatiana só encontrou a resposta quando uma psiquiatra a diagnosticou com burnout. Ela precisou de 60 dias de afastamento do trabalho, medicação psicotrópica e sessões semanais de terapia.

Hoje, Tatiana reconhece o difícil caminho que percorreu, mas enxerga a luz no fim do túnel. Sua jornada foi extenuante, e ela ressalta que a rede de apoio que a ajudou a passar por tudo teve um papel fundamental em sua recuperação e autocura.

Onde estamos e para onde vamos?

Em um mundo capitalista que está sempre em busca de mais, a ideia de pisar no freio do trabalho pode parecer imoral e até obscena. No entanto, talvez seja justamente essa a chave que nos impulsionará para um futuro mais saudável e equilibrado. Reconhecer nossas limitações e não ter medo de admitir que estamos cansados é um passo vital.

Como já me disseram algumas vezes: "Você não vai levar nada depois de morrer". Então, por que correr tanto?

Fontes: www.correiobraziliense.com.brnews.un.orgwww.neurometria.com.brwww.cofen.gov.brwww.einstein.brgndisul.com.br

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