Cientistas criam versão de medicamento contra câncer 20 mil vezes mais eficaz e sem efeitos colaterais detectáveis

A nova abordagem entrega o medicamento direto às células doentes e reduz os danos ao organismo. Foto: Ilustração/Gemini

A ciência médica testemunha um marco na luta contra o câncer com o anúncio da Universidade Northwestern (EUA), que conseguiu, por meio da nanotecnologia, reestruturar o antigo quimioterápico 5-fluorouracilo (5-FU). A inovação, publicada na prestigiosa revista ACS Nano, transforma um medicamento essencial em uma terapia altamente seletiva, promissora em termos de eficácia e segurança.

O sucesso da reformulação reside na conversão do 5-FU em Ácidos Nucleicos Esféricos (SNAs). O 5-FU, que historicamente tem problemas de baixa solubilidade e ampla toxicidade, foi quimicamente incorporado às cadeias de DNA que revestem minúsculas nanoesferas.

O líder da pesquisa, Dr. Chad A. Mirkin, explicou o mecanismo: diferentemente dos quimioterápicos tradicionais que atacam indiscriminadamente, as células cancerígenas (especialmente as mieloides, como as da Leucemia) superexpressam receptores em suas superfícies. Estes receptores reconhecem e "puxam" os SNAs para dentro da célula de forma natural. Uma vez internalizada, a nanoestrutura é quebrada por enzimas, liberando a carga quimioterápica diretamente no foco do tumor.

"O problema não é o medicamento em si, mas como o corpo o processa. Nossa nanomedicina estrutural busca preferencialmente as células mieloides. Em vez de sobrecarregar todo o corpo com quimioterapia, ela entrega uma dose mais alta e focada exatamente onde é necessário," disse o Dr. Mirkin, destacando que essa abordagem resolve a dupla falha do 5-FU tradicional: baixa solubilidade e falta de seletividade.

Os testes em modelos animais com Leucemia Mieloide Aguda (LMA), um câncer agressivo e de prognóstico difícil, geraram resultados impressionantes que apontam para um salto de eficácia:

  • A nova formulação demonstrou uma capacidade de destruição de células leucêmicas até 20.000 vezes maior que o 5-FU padrão.

  • A penetração nas células malignas foi 12,5 vezes mais eficiente.

  • A progressão do câncer foi retardada em 59 vezes.

Crucialmente, todo esse potencial foi observado sem a detecção de efeitos colaterais nos modelos animais. Esta ausência de toxicidade representa a superação da maior limitação do 5-FU, que é notoriamente associado a efeitos adversos severos como mielossupressão (diminuição da produção de células sanguíneas), estomatite e diarreia.

A importância do 5-fluorouracilo (5-FU) na história da quimioterapia

O 5-FU, sintetizado em 1957, é um agente antimetabólito que há décadas sustenta o tratamento de cânceres sólidos (como colorretal e de mama) ao impedir a replicação celular. A nanotecnologia de Northwestern, ao conferir-lhe seletividade, não apenas potencializa seu uso, mas também o transforma em um agente de precisão.

Embora o entusiasmo seja grande, a terapia permanece em fase pré-clínica, testada até o momento em camundongos. A equipe de pesquisa planeja agora avançar com testes em modelos animais maiores, um passo essencial antes de submeter a tecnologia aos rigorosos ensaios clínicos em humanos. Até a data atual, os ensaios clínicos com esta formulação específica (SNA-5-FU) ainda não foram publicados.

Fonte: epocanegocios.globo.com

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